Chico Anysio, ator falecido hoje, 23 de março de 2012 às 14:52 horas, foi o MAIOR HOMORISTA brasileiro, seus mais de 200 personagens o consagrou como o ícone do humor brasileiro, o VAZIO vai ficar aqui na Terra! Ele NÃO TEM SUBSTITUTO! O humorista Agildo Ribeiro, assim que soube do desencarne de Chico falou poucas palavras, mas que retratam exatamente o sentimento da maioria de todos nós, disse ele: "O mais importante é que estamos em luto nacional. O Brasil está mais triste, sem perspectivas de risos e alegrias". Antes deste último período de internação, ele já havia permanecido no hospital entre o dia 30 de novembro e 21 de dezembro de 2011, devido a uma infecção urinária. No dia em que recebeu alta, o humorista comemorou a notícia em sua conta no Twitter: "-Olá amigos, voltei pra casa hoje depois de mais uma temporada no hospital. Estou feliz porque vou passar o Natal em casa e ansioso para voltar a trabalhar". No entanto, ele voltou para o CTI do Hospital Samaritano, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, um dia depois e permaneceu internado até hoje...
Aqui relembro alguns dos seus personagens e alguns dos seus bordões, para aqueles que não conheceram as características deles:
"Tavares" era um bonvivant que namorava uma baranga, vivida pela Zezé Macêdo, a sua "Biscoito" e vivia rodeado pelos pais da moça a quem chamava de Papi e Mame, um incorrigível manguaceiro, sempre embriagado, sem largar o copo, dizia ao final: "Sou, mas quem não é?" Acho que todos "somos", Chico!
Esse era o "Alberto Roberto", um "hator" (Era assim que ele soletrava: "Eu sou um hator, h-a-t-o-r, hator...") Era um "ídalo" e quando alguma celebridade ia gravar algo com ele, no alto da sua soberba ele perguntava: "Você é o famoso quem? Eu sou Alberto Roberto, o resto é figuração"!
Esse era o Bozó, um sujeito feio e gago, mas era assitente, um tipo de office-boy da Rede Globo e quando encontrava uma mulher bonita enfatizava o seu "posto", dizendo: "Qua-qua-qua-qualé, eu tra-trabalho na Globo".
Bento Carneiro, um vampiro caipira que falava errado, "Sou aquele que vem do aquém, do além, adonde que véve os morto" e sempre que tentava fazer algum feitiço, se dava mal. Tinha um assitente, o "Calunga" que era tão topeira quanto ele: Sempre que terminava ele dizia: "Vampír brasilhêro".
Esse era o "Azambuja", ou melhor, "Paulo Maurício Azambuja", um malandro incorrigível, que vivia aplicando pequenos golpes e sempre botava o seu parceiro, o "Linguiça" em roubadas! Por algumas vezes dizia um bordão que virou até música do Bezerra da Silva: "Malandro é malandro, mané é mané".
O "Jovem", era um "garoto-problema" de classe média que vivia dando sinais de sua rebeldia, típica dos garotos dos anos 80, sempre tinha amigos estranhos justificando com o: "Pô mãe, pô, jovem é outro paaaaaaapo".
"Coalhada" era o maior perna-de-pau e se dizia melhor que os jogadores brasileiros da época, esculachava com Zico e Sócrates, bebia cachaça como se fosse água. Existia um slogan: "Coalhada, o craque que faltou na seleção."
Painho era um pai de santo baiano, que sempre recebia um artista famoso para "fazer um trabalho". Era gay e naquela época se não havia problemas juntar homossexualidade e bom humor, ele sempre perguntava a "Cunhã", sua secretária perticular se algum "fulano" (sempre era um político) havia ligado pedindo conselhos e falava: "Tô com uma dor nos quartos, aff, tô morta..."
Esse era o "Tim Tones", o personagem era uma sátira ao pastor norte-americano Jim Jones, que tinha uma seita e levou dezenas de pessoas suicídio. A sátira seria só no nome, porque o GENIAL Chico já prenunciava a CANALHADA de pastores, bispos e apóstolos que estavam em fase embrionária no Brasil e iriam invadir a nação anos depois, o prenúncio se dava quando após a sua pregação junto à esposa, ele chamava os filhos, todos ruivinhos como ele, e dizia: Tífhanne, Teóphilo, Thomas, Temístocles, podem correr a sacoliinhaaaa..."
"Justo Veríssimo", Deputado que quando era procurado por algum eleitor necessitado, mandava o seu assessor, o Castor, arranjar uma desculpa e "despachar" o pobre coitado. Quando alguém reclamava da sua atitude, ele bradava: "Eu lá quero saber de pobre, eu quero que pobre SE EXPLODA!" Um fiel retrato da realidade brasileira. Por falar nisso: "ATÉ TU, DEMÓSTENES?"
"Lingote" era um remanescente do movimento ocorrido mundialmente na década de 1970, o movimento hippie. Ele não acreditava no seu fim e sempre estava "viajando na maionese", também falava muitas gírias, era um bicho-grilo que sempre que concordava, dizia: "Falooooooou... me liguei, tá sabendo? Eu vou bater pra tu, pra tu bater, pra tua patota" Muito bom.
"Pantaleão" era um velho contador de estórias, todas exageradamente mentirosas, estórias mesmo! Matava onça com baleadeira, pescava peixes com toneladas de peso, assutava Sací-Pererê, amansava Mula-sem-cabeça e quando o seu afilhado, o Pedro Bó, o interrompia fazendo uma pergunta idiota e ele perdia o "fio-da-mentira", Pantaleão Pereira Peixoto, dava a maior bronca no retardado garoto. No fim de cada estória, ele perguntava a sua companheira que estava ao lado fazendo crochê: "É mentira Terta?" E ela dizia: "Verdaaaaaade".
O Véio Zuza era um legítimo afrodescentedente, que sempre tinha uma receita para quem o procurasse. Sua imagem lembrava o "Preto Velho" da Umbanda.
O Profeta é um dos mais especiais para mim, porque ele sempre depois que nós nos divertíamos com os outros personagens, ele aparecia acompanhado de alguém desesperado com os problemas cotidianos e dava um conselho onde fazia uso de Provérbios e exemplos Cristãos. Algumas vezes ma emocionei assistindo.
Chico tinha outros personagens como o "Nico Bondade" que era um sujeito sem maldade alguma, inocente mesmo! "Quém-Quém" um garçon que era fanho; "Gastão", um sujeito unha-de-fome, sovina; "Salomé", uma velhinha gaúcha, conterrânea do ex-presidente, Gen. João Figueirêdo, quem em plena ditadura militar, telefonava para ele e dizia ao final: "Ou eu dobro o João Batista, ou eu não me chamo Salomé."; "Baiano" da dupla Baiano e os Novos Caetanos, que fazia uma espécie de homenagem ao grupo Novos Baianos. Chico gravou algumas das composições dele em parceria com o nosso Arnald Rodrigues.
Por falar em composições, aqui transcrevo trechos de algumas das belas músicas de Chico Anysio:
"Folia de Reis"
"Ai, mar marujei!
Ai, eu naveguei!
E aprendi a nova lei:
Se é de terra que fique na areia,
O mar bravo só respeita rei!
Se é de terra que fique na areia,
O mar bravo só respeita rei!
Ai, eu partirei!
Ai, eu voltarei!
Vou confirmar a nova lei:
Alegria em nome de Cristo,
Porque Cristo foi o Rei dos reis!
Alegria em nome de Cristo,
Porque Cristo foi o Rei dos reis!"
"Dendalei"
"Eu aprendi tudo que sei
Nos sete dias de transas do rei
Do que eu vi, muito gostei
Tudo perfeito demais
dendalei dendalei denda.
Sou fã da viração do vento
Sou fã do livre pensamento
Sou fã da luz do nascimento
Sou fã aqui do melhor momento
Sou fã desse meu firmamento
Sou fã da roda que eu entro
Sou fã do velho testamento
Sou fã do agradecimento
Sou fã da viração do pensamento
Da luz do melhor momento
Do livre nascimento Da cor do testamento
Do velho firmamento
E do agradecimento..."
"Aldeia de Pedra"
"Em cada rosto uma expressão
Em cada bucho a digestão
Um novo carro, nova casa,
Enquanto velho me pede pão... O pão nosso de cada dia, dái-nos hoje, creditai, nossas dívidas
Assim como não nos perdoam nossos credores,
Não nos perdoam, nossos credores...
Aldeia, aldeia, aldeia de pedra, aldeia
Semeia, semeia, sementes de ferro, semeia..."
"Rio Antigo"
"Quero um bate-papo na esquina
Eu quero o Rio antigo
Com crianças na calçada
Brincando sem perigo
Sem metrô e sem frescão
O ontem no amanhã... Eu que pego o bonde 12 de Ipanema
Pra ver o Oscarito e o Grande Otelo no cinema
Domingo no Rian
Me deixa eu querer mais, mais paz! Quero um pregão de garrafeiro
Zizinho no gramado
Eu quero um samba sincopado
Baioba, bagageiro
E o desafinado que o Jobim sacou...
Quero o programa de calouros
Com Ary Barroso
O Lamartine me ensinando
Um lá, lá, lá, lá, lá, gostoso
Quero o Café Nice
De onde o samba vem
Quero a Cinelândia estreando "E o Vento Levou"
Um velho samba do Ataulfo
Que ninguém jamais agravou
PRK 30 que valia 100
Como nos velhos tempos...
Quero o carnaval com serpentinas
Eu quero a Copa Roca de Brasil e Argentina
Os Anjos do Inferno, 4 Ases e Um Coringa
Eu quero, eu quero porque é bom
É que pego no meu rádio uma novela
Depois eu vou à Lapa, faço um lanche no Capela
Mais tarde eu e ela, nos lados do Hotel Leblon...
Quero um som de fossa da Dolores
Uma valsa do Orestes, zum-zum-zum dos Cafajestes
Um bife lá no Lamas
Cidade sem Aterro, como Deus criou...
Quero o chá dançante lá no clube
Com Waldir Calmon
Trio de Ouro com a Dalva
Estrela Dalva do Brasil
Quero o Sérgio Porto
E o seu bom humor...
Eu quero ver o show do Walter Pinto
Com mulheres mil
O Rio aceso em lampiões
E violões que quem não viu
Não pode entender
O que é paz e amor..." Esta para mim é uma das mais belas composições que já ouvi...
"Tributo ao Regional"
"Não há considerações gerais a fazer
Tá tudo aí... Tá tudo aí
Para quem quiser ver
Um som perfeitamente leve pro meu corpo
Um som incrivelmente vivo, nada morto..."
É, AMIGOS e AMIGAS, Chico Anysio foi um vencedor, conseguiu ser quase uma unanimidade por onde passou. Ele próprio falou: "Eu não tenho medo de morrer, eu tenho pena..." Nós também estamos tristes e com muita "pena" de tê-lo perdido, Chico, mas CERTAMENTE há ALEGRIA em algum PLANO QUE VOCÊ ESTEJA SENDO RECEBIDO, porque o contrário seria INJUSTO...
"O Brasileiro é o único povo que consegue rir da própria desgraça..." Dessa vez não, Chico, dessa vez a DESGRAÇA não teve e NUNCA terá a menor graça!!!
Que o TEU caminho seja de MUITA LUZ!!!
Kildare Johnson
